REVISÃO
DE LITERATURA
3.1
Acidente Vascular Cerebral
3.2 SPECT
3.3 Acupuntura e Acidente Vascular
Cerebral
3.1
Acidente Vascular Cerebral
TWITCHELL
(1951) descreve, em detalhes, a observação da recuperação
da função motora em 121 pacientes após o AVC,
na tentativa de delinear alguns fatores envolvidos. Demonstra que,
se a recuperação do movimento ocorrer, ela segue uma
seqüência regular de alterações dos reflexos,
cada qual estando associada ao aumento correspondente na habilidade
de realizar determinada atividade.
MAHONEY;
BARTHEL (1965) descrevem uma escala simples, denominada de índice
de Barthel, para avaliar a independência de doentes com distúrbio
neuro-muscular ou músculo-esquelético, ou seja, a sua
capacidade de realizar, por si só, as atividades de vida diária.
A pontuação para cada item é baseada no grau
de dependência do paciente. O escore máximo é
dado pela somatória da pontuação de cada quesito.
GRESHAM
et al. (1975) apresentam os achados iniciais de um exame funcional
atualizado de sobreviventes de acidentes vasculares cerebrais completos
em uma comunidade de 5.209 pessoas examinadas regularmente e acompanhadas
por 22 anos. Avaliação semelhante é realizada
em um grupo controle normal sem acidente vascular cerebral, pareada
quanto à idade e ao sexo. Esta avaliação permite
a comparação de incapacidades residuais em doentes com
acidente vascular cerebral. Encontram que os déficits sensitivos,
a hemi-anopsia, a disartria e a disfasia são mais freqüentes
nos sobreviventes do que nos controles normais. Dentre os sobreviventes
do acidente vascular cerebral, 16% são institucionalizados,
31% dependentes no autocuidado, 20% dependentes na mobilidade. Além
disso, 71% apresentam redução da função
vocacional e 62% redução da socialização
fora do domicílio. Estas freqüências são
muito maiores do que as correspondentes no grupo controle.
KERTESZ;
McCABE (1977) comparam o curso dos pacientes tratados e não
tratados e examinam os fatores da recuperação espontânea
na afasia, através de avaliações seriadas da
linguagem. A recuperação é maior nos casos traumáticos
do que nos cerebro-vasculares. Quando os infartos estáveis
são estudados de modo separado, a recuperação
maior é observada nas afasias de "Broca". A afasia
anômica parece ser o estágio final comum de evolução.
O seguimento a longo prazo, de 12 meses ou mais, demonstra que a afasia
global tem um prognóstico pobre, enquanto que a de "Broca"
e a de "Wernicke" apresentam prognóstico intermediário.
A recuperação completa ocorre de forma freqüente
entre as afasias anômicas, de condução e transcorticais
e em mais da metade dos casos traumáticos. A gravidade inicial
correlaciona-se de modo significante com a evolução.
A idade e o nível de recuperação inicial demonstram
uma tendência à correlação negativa. Quando
a comparação é possível, não há
diferença significativa entre os grupos tratados e não
tratados.
BLOCH;
BAYER (1978) enfatizam que o tratamento correto do AVC requer a previsão,
o conhecimento sobre o futuro do paciente, ou seja, sobre seu prognóstico.
Apenas quando o médico tem uma idéia precisa sobre o
futuro do paciente é que ele pode decidir por uma estratégia
terapêutica. É obviamente improvável investir
altas somas na reabilitação de pacientes que não
melhorarão. Do mesmo modo, também é improvável
que se sujeite o paciente a riscos de cirurgias corretivas, se a deficiência
não será alterada devido a outros fatores associados
à sua condição. O prognóstico específico
ajuda também a orientar familiares do paciente a planejar a
adaptação gradual à nova situação
e também será o suporte para uma relação
de confiança com o médico. O propósito acadêmico
do prognóstico assegura uma nova forma de terapia e é
possível comparar a evolução atual com uma evolução
projetada baseada em prognósticos tradicionais, permitindo
uma inferência estatística válida a respeito do
tratamento numa população pequena que irá atingir
diretamente uma população maior quando comparada a esse
menor grupo. Outros fatores a serem considerados são o prognóstico
para a recorrência de um novo AVC e o prognóstico quanto
à função do paciente. Em suma, muito dos novos
fatores reconhecidos estão sendo considerados como de valor
preditivo para sobrevida, recorrência, função
neurológica e recuperação do paciente depois
do AVC. Fatores associados a um prognóstico pobre tais como:
incontinência, desorientação, imobilidade, obesidade,
história prévia de AVC, diabetes, visão pobre,
afasia, idade avançada, devem ser considerados antes que o
indivíduo seja aceito para uma terapia intensiva ou cirurgias
corretivas.
BOBATH (1978) descreve, em detalhes, os principais distúrbios
sensoriais e motores encontrados em pacientes hemiplégicos
adultos, discutindo os fatores que interferem na função
motora normal e os princípios do tratamento derivados de tais
achados.
GRESHAM
et al. (1979) apresentam a freqüência de nove tipos específicos
de déficits funcionais em 148 pacientes com acidente vascular
cerebral e em controles normais. Avaliam a redução da
função vocacional, da socialização dentro
e fora do domicílio, do interesse em atividades de lazer, assim
como a redução da habilidade do uso de transportes externos
limitando as tarefas domiciliares. Analisam a dependência entre
as atividades de vida diária e a mobilidade, e finalmente a
institucionalização. Com exceção da redução
da função vocacional e da socialização
no domicílio e da institucionalização, todos
os demais déficits funcionais são significantemente
menores no grupo controle. As incapacidades mais graves e limitantes
como a institucionalização e a dependência na
mobilidade e no autocuidado são, felizmente, menos prevalecentes.
SARNO;
LEVITA (1981) acompanham, de modo sistemático, um grupo pequeno
de pacientes com afasia global, três meses após o AVC,
tratado com terapia de linguagem intensiva durante o primeiro ano
após o íctus. Todos os pacientes melhoram, principalmente
na compreensão auditiva. O menor índice de melhora ocorre
no discurso proposicional. Há um aumento do uso de padrões
não lingüísticos de comunicação,
como os gestos, que são observados após seis meses.
As maiores alterações ocorrem entre seis e doze meses
de tratamento. Apesar da melhora, os pacientes ainda apresentam defeitos
graves de comunicação. Sugerem, deste modo, que o tempo
de início desde o íctus é uma variável
crítica na evolução da afasia global.
SKILBECK
et al. (1983) avaliam a recuperação da fala, da deambulação,
do uso funcional do membro superior e da habilidade funcional geral
em um grande grupo de pacientes encaminhados a uma unidade de reabilitação
em AVC. Evidenciam que na maioria das modalidades, a recuperação
ocorre, principalmente, no período inicial de três meses
após a lesão inicial. Apesar da observação
de melhora após este período, as diferenças não
são estatisticamente significantes.
Segundo
HIER et al. (1983), as lesões do hemisfério direito
causam anormalidades comportamentais que incluem: apraxia construcional,
apraxia para vestir, não perseverância motora, anosognosia,
negligência no hemi-espaço esquerdo, extinção
de estimulação dupla simultânea, prosopagnosia
e negligência espacial unilateral para desenho. Poucas pesquisas
têm considerado a taxa de recuperação espontânea
nesses distúrbios e não é conhecido se déficit
diferentes melhoram em taxa diferentes. Deste modo, os autores examinam
a taxa e a recuperação dessas anormalidades comportamentais
em 41 pacientes com AVC em hemisfério direito. Evidenciam que
a recuperação é melhor nas lesões menores
do que nas maiores e também sugerem que a recuperação
é melhor nas funções com substrato neural difuso,
ou seja, na prosopagnosia, negligência e anosognosia. Enfatizam
que acidentes vasculares hemisféricos extensos podem não
lesionar a totalidade do substrato neural responsável por funções
como a atenção do lado esquerdo e o reconhecimento da
face. Por outro lado, lesões pequenas podem interromper as
vias neurais bem definidas que controlam as funções
motoras e visuais, deixando pouca possibilidade de recuperação
da hemiparesia ou da hemianopia.
BJORNEBY;
REINVANG (1985) avaliam o grau de autocuidado em 120 doentes com o
acidente vascular cerebral unilateral nos diferentes estágios
de recuperação. Os resultados demonstram que a função
nas atividades de vida diária melhora entre a admissão
e a alta hospitalar; porém piora após o retorno ao domicílio.
Há uma relação significante entre a função
nas atividades de vida diária no hospital e a apraxia. Todas
as variáveis de apraxia são preditores significantes
do grau de dependência subseqüente. Os resultados demonstram
a gravidade dos problemas relacionados à apraxia na reabilitação
de doentes com acidente vascular cerebral relacionado ao hemisfério
esquerdo.
GRESHAM
(1986) tece comentários sobre os resultados das pesquisas no
acidente vascular cerebral. Enfatiza a importância de tais pesquisas
na monitorização do impacto da doença na sociedade,
com relação à sobrevivência e aos dados
de incapacidade dela decorrentes, fornecendo, deste modo, a base para
o prognóstico. Salienta também a importância dos
aspectos metodológicos no estudo de resultados de doentes com
acidente vascular cerebral. Estes fatores incluem o estudo de grupos
apropriados, a classificação do déficit neurológico,
a identificação do papel de co-morbidades, os métodos
de avaliação e os resultados das variáveis estudadas,
evidenciando a importância do fator tempo. Ressalta, ainda,
que o alto custo e o grande número de doentes justificam o
estudo continuado e o desenvolvimento de arquivos de dados de doentes
e a avaliação de modalidades novas e inovadoras sobre
os benefícios gerais da reabilitação nestes pacientes.
A melhora funcional precoce após o acidente vascular pode ocorrer
mais devido à história natural da doença do que
a algum tipo de intervenção. O ganho funcional obtido
na reabilitação de doentes com acidente vascular cerebral
mantém-se por pelo menos durante dois anos, conforme a literatura.
KOTILA
et al. (1986) analisam o prognóstico a longo prazo de doentes
com acidente vascular cerebral que apresentam déficit visuo-espacial
de diferentes níveis de gravidade. Os doentes com déficit
atencional leve ou moderada recuperam melhor do que os com negligência.
FOULKES
et al. (1988) descrevem um projeto de banco de dados para o acidente
vascular cerebral fornecendo o desenho, os métodos e a descrição
dos doentes matriculados. Trata-se de um projeto multicêntrico
de coleta de dados prospectivos sobre o curso clínico e as
seqüelas do acidente vascular cerebral. O projeto fornece informações
que permitem a avaliação clínica diagnóstica
padronizada, a identificação de fatores prognósticos
e o planejamento para estudos futuros.
WADE;
COLLIN (1988) discutem a adoção abrangente da escala
de Barthel para a avaliação das atividades de vida diária
como medida de incapacidade física. Relatam a sua validade,
confiabilidade, sensibilidade e uso clínico. Sugerem que o
uso da escala de Barthel pode ser um indicador simples e clinicamente
relevante para avaliar as incapacidades físicas mais importantes.
BROTT
et al. (1989) desenvolvem um sistema de avaliação de
pacientes com acidente vascular cerebral. Correlacionam os valores
obtidos pela escala desenvolvida com outras medidas de avaliação
da gravidade do acidente vascular cerebral como: a medida do volume
do infarto através da tomografia computadorizada e a avaliação
clínica em três meses.
EGELKO
et al. (1989) estudam a história natural de recuperação
da percepção, atenção, cognição
e afetividade de pacientes com acidente vascular cerebral, incluídos
num programa hospitalar de reabilitação. O estudo é
desenhado para determinar se as deficiências dessas funções
refletem alterações do hemisfério cerebral direito.
A avaliação, um ano após o acidente vascular
cerebral, demonstra melhora significante da heminegligência
espacial e da compreensão nos doentes com lesão vascular
cerebral do hemisfério direito e não do esquerdo.
GOLDSTEIN
et al. (1989) investigam a confiabilidade de inter-observadores da
escala NIH (National Institutes of Health), utilizada em vários
estudos multicêntricos, de pacientes com acidente vascular cerebral.
Os doentes são avaliados de modo independente por dois observadores.
O grau de concordância das interavaliações para
cada item da escala é determinado através do cálculo
estatístico. Há uma concordância dos resultados
obtidos pelos inter-observadores.
BRANDSTATER
(1990) faz uma revisão sobre a reabilitação do
acidente vascular cerebral. Relata que o objetivo da reabilitação
é restaurar indivíduos incapacitados ao seu melhor possível
nível funcional físico, mental e social. Destaca que
a reabilitação não deve ser tomada como uma fase
distinta e isolada do cuidado, que deve seguir o diagnóstico
e o tratamento médico. É, na verdade, parte integral
do tratamento médico através de um acompanhamento contínuo,
envolvendo os cuidados agudos, a reativação e a readaptação.
Descreve, também, vários estudos que identificam os
fatores preditivos de recuperação menos favoráveis.
Dentre eles, destaca: a idade avançada, o AVC prévio,
a incontinência urinária e fecal e o teste visual parcial.
Enfatiza que mesmo os doentes com potencial desconhecido devem iniciar
a reabilitação.
GOWLAND
et al. (1993) enfatizam a necessidade do uso de escalas de medidas
bem construídas, validadas e confiáveis para a avaliação
da eficácia de intervenções terapêuticas.
Assim, avaliam a confiabilidade e a validade da escala de avaliação
do acidente vascular cerebral denominada Chedoke-Mcmaster. Os coeficientes
de confiabilidade dos valores totais variam de 0,97 a 0,99. Os resultados
deste estudo confirmam a confiabilidade e a validade dos resultados,
permitindo que esta escala seja utilizada tanto nos ensaios clínicos
como nos de pesquisa, no intuito de discriminar os indivíduos
e avaliar os resultados terapêuticos.
HEINEMANN
et al. (1993) avaliam a escala FIM (Function Indenpendence Measure)
para medir a gravidade da incapacidade e para determinar a extensão
na qual medidas de incapacidade são comparáveis para
pacientes com diferentes incapacidades.
LINACRE
et al. (1994) avaliam a escala de medida da independência funcional
(FIM) em 14.799 pacientes com alguma incapacidade. Destes, 6.412 apresentavam
história de AVC. Fazem a avaliação durante a
admissão e a alta hospitalar. Sugerem que a avaliação
das incapacidades das funções motoras (13 itens) deve
ser analisada de modo independente da capacidade cognitiva (5 itens).
Esta escala permite a comparação quantitativa das medidas
da independência funcional em tempos distintos, conferindo a
sua validade.
HEINEMANN
et al. (1997) avaliam a utilidade clínica e a validade da escala
de AVC do National Institutes of Health (NIH) para pacientes em programas
de reabilitação utilizando um programa computadorizado
de análise da avaliação da escala. Estudam a
variação da incapacidade avaliada para cada item, estabelecem
a coerência dos itens com um tipo de incapacidade conhecida
e também com a variação da incapacidade medida
em pacientes em programas de reabilitação. Os únicos
itens que demonstram correlação pobre são a ataxia
dos membros e a resposta pupilar. Os autores sugerem que os estudos
reabilitacionais que desejam distinguir a recuperação
funcional e a redução da incapacidade atribuídas
a intervenções terapêuticas sobre a recuperação
neurológica podem se beneficiar deste tipo linear de medida
do prejuízo. Trata-se de um método válido para
descrever a gravidade de um prejuízo encontrado em pacientes
que se submetem à reabilitação do AVC isquêmico.
GOLDSTEIN;
SAMSA (1997) avaliam a confiabilidade da escala do NIH (National Institutes
of Health) como instrumento de avaliação utilizado por
não neurologistas, em estudos clínicos no acidente vascular
cerebral. Demonstram que a escala é confiável e que
uma variedade de profissionais de saúde, investigadores não
neurologistas, podem rapidamente ser treinados para utilizar a escala
de forma confiável.
POHJASVAARA
et al. (1997) examinam os fatores de risco, o padrão do acidente
vascular cerebral isquêmico e a incapacidade pós-acidente
vascular cerebral em dois grupos etários: de 55 a 70 anos e
de 71 a 85 anos. O estudo demonstra a diferença entre os grupos
mais jovens e os mais idosos em relação aos fatores
de risco e ao padrão do acidente vascular cerebral. O grupo
de pacientes mais idosos, previamente incapacitado ou dependente,
encontra-se relativamente mais dependente após o acidente vascular
cerebral do que os pacientes de faixa etária mais jovem.
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3.2
SPECT
LEE
et al. (1984) avaliam o valor preditivo do tamanho do defeito de perfusão
observado com IMP N-isopropil-p (I 123) iodo anfetamina e tomografia
computadorizada em pacientes com infarto cerebral agudo com respeito
à recuperação do seu déficit físico
no momento do estudo. O tamanho da lesão e a redução
da densidade nos cortes correlacionam-se bem com os sintomas atuais,
porém não são preditivos da evolução.
O seguimento médio dos pacientes sobreviventes é de
19,4 2,3 meses. O estudo conjunto de IMP e tomografia computadorizada
identificam um grupo de pacientes que poderia se beneficiar da terapêutica,
melhorando o prognóstico.
DEFER
et al. (1987) comparam as imagens IMP precoce e tardia em pacientes
com isquemia cerebral, na tentativa de determinar se a "atividade
de redistribuição" é preditiva para a viabilidade
tecidual e a evolução clínica. Concluem que as
imagens IMP tardias podem fornecer informações qualitativas
em relação à viabilidade do tecido cerebral isquêmico.
A amplitude de redistribuição pode estar intimamente
relacionada à melhora subseqüente do quadro clínico
após três meses. Deste modo, as imagens tardias podem
ser um índice prognóstico para estes pacientes, particularmente
em relação terapêutica aos cuidados de enfermagem
e decisões de reabilitação.
BUSHNELL
et al. (1989) averiguam a utilidade potencial do SPECT-IMP utilizando
o N-isopropil-p (I 123) iodo anfetamina, em imagens cerebrais para
predição de recuperação da linguagem e
neurológica após infarto cerebral isquêmico. Pacientes
com defeitos menores de volume IMP na região do infarto apresentam
recuperação neurológica melhor que aqueles com
defeitos maiores. Os dados apresentados sugerem que o volume do defeito
de IMP, observado nas imagens precoces pós-injeção,
podem auxiliar na previsão do potencial de recuperação
após infartos cerebrais isquêmicos.
Em estudo
multicêntrico prospectivo, HAYMAN et al. (1989) avaliam a utilidade
clínica da tomografia computadorizada e do SPECT-IMP em pacientes
com AVC agudo e subagudo não hemorrágicos. Estudam tanto
a habilidade dos cortes para localizar uma região anormal quanto
o seu valor para prever a evolução clínica. A
detecção das lesões é melhor pela SPECT-
IMP nos primeiros dois dias, mas torna-se igual à da tomografia
computadorizada três a cinco dias após o íctus.
Já na fase subaguda, a tomografia computadorizada com contraste
endovenoso é superior ao SPECT-IMP e à tomografia sem
contraste. Os parâmetros medidos pelos dois métodos não
são capazes de predizer a evolução clínica
em infartos cerebrais agudos. A redução no tamanho da
lesão nos cortes subagudos não se correlaciona com a
melhora clínica.
GIUBILEI
et al. (1990) substanciam o valor preditivo clínico de imagens
de SPECT precoces (dentro de seis horas) do fluxo cerebral e avaliam
as relações entre os achados morfológicos e de
perfusão em pacientes com isquemia cerebral aguda. A avaliação
precoce do fluxo sangüíneo cerebral com SPECT parece compatível
com os achados clínicos que ajudam no tratamento intensivo
dos pacientes com AVC isquêmico durante as primeiras horas após
o início do quadro. Apesar das limitações do
método de SPECT semiquantitativo utilizado, os dados mostram
que o fluxo sangüíneo cerebral é um fator preditivo
da evolução pobre precocemente após o AVC, em
particular, uma alteração grave do fluxo sangüíneo
cerebral em pacientes, e predizem uma evolução mais
pobre. Além disso, a avaliação do fluxo sangüíneo
cerebral regional gera informações sobre a persistência
da oclusão da artéria e o volume final do dano do parênquima
cerebral. Correlações clínicas mais sutis podem
ser obtidas usando SPECT com melhor resolução ou com
traçados novos para o fluxo sangüíneo cerebral
e o metabolismo cerebral ou uma realização de estudo
com tomografia por emissão de pósitrons durante a admissão
do paciente.
LIMBURG
et al. (1990) realizam o SPECT em pacientes consecutivos com menos
de 24 horas após o AVC isquêmico supra tentorial. Dois
observadores avaliam o déficit do fluxo cerebral regional inicial
através de um método semi-quantitativo visual. Há
correlação negativa entre o tamanho do déficit
do fluxo inicial e o escore pelo Índice de Barthel, que avalia
as atividades da vida diária, após seis meses. Não
há correlação com o escore do índice de
motricidade, que mede o grau da gravidade da hemiparesia após
seis meses. Sugerem que o SPECT é um método relativamente
simples para medir, de forma semi-quantitativa, os distúrbios
no fluxo sangüíneo imediatamente após a sua ocorrência.
A magnitude deste distúrbio relaciona-se, de modo marcante,
com o óbito precoce por herniação supra-tentorial.
Devido a estas propriedades, o SPECT pode ser de grande utilidade
na pesquisa de AVC agudo.
CHOLLET
et al. (1991) estudam a mudança do fluxo cerebral regional
durante o movimento dos dedos de uma mão previamente paralisada
após o primeiro AVC, devido a uma lesão isquêmica
única, anatomicamente bem definida. Comparam o padrão
do fluxo cerebral regional obtido durante o movimento de uma mão
em recuperação, previamente paralisada, com os padrões
de fluxo sangüíneo cerebral regional registrados durante
o repouso e as alterações observadas, quando os dedos
da mão contra-lateral normal são movimentados. Observam
a participação de vias motoras ipsilaterais na recuperação
da função motora após o AVC isquêmico.
Ocorre aumento significante do fluxo sangüíneo cerebral
regional no córtex sensitivo motor primário contra-lateral
e no hemisfério cerebelar ipsilateral quando os dedos normais
se movimentam. Quando os dedos da mão recuperada se movimentam,
observa-se um aumento significante do fluxo sangüíneo
cerebral regional no córtex primário sensitivo motor
tanto contralateral quanto no ipsilateral. Também observam
aumento significante nos hemisférios cerebelares bilaterais
e em outras regiões como a insula, o córtex parietal
inferior e pré-motor bilateral.
WEILLER
et al. (1992) utilizam o PET (Position Emission Tomography) para avaliar
a extensão dos efeitos funcionais de lesões estriatocapsulares
unilaterais em pacientes após AVC. Investigam ainda as alterações
das atividades cerebrais associadas com o desempenho de tarefas motores
simples, como a oposição de dedos. As comparações
dos mapas de fluxo sangüíneo cerebral em repouso de dez
doentes comparados com controles normais evidenciam fluxo significantemente
menor nos gânglios da base, no tálamo, no córtex
sensitivo motor, insular e pré-frontal dorsolateral, no mesencéfalo
contralaterais à mão recuperada e no cerebelo ipsilateral.
Este déficit reflete a distribuição da disfunção
cerebral causada pela lesão. O fluxo sangüíneo
cerebral regional encontra-se aumentado de maneira significante no
cíngulo posterior e no córtex pré-motor contralateral,
assim como no núcleo caudado ipsilateral da mão recuperada.
Durante a realização de uma tarefa pela mão recuperada,
os pacientes ativam as áreas corticais motoras contralaterais
e o cerebelo ipsilateral na mesma extensão que os voluntários
normais. Entretanto, tal ativação é maior em
ambas as insulas, no córtex parietal inferior (área
40), cíngulos pré-frontal e anterior, no córtex
pré-motor e gânglios da base ipsilaterais e no cerebelo
contralateral de controles normais. O padrão de ativação
cortical também é anormal, quando a mão não
afetada, contra-lateral à hemiplegia, realiza a tarefa. Deste
modo, os autores demonstram a ativação de vias motoras
bilaterais e o recrutamento de áreas sensitivo-motoras adicionais
e de outras áreas corticais específicas na recuperação
de AVC motor decorrente de infarto estriatocapsular. Estes achados
sugerem a participação considerável da plasticidade
funcional do córtex cerebral adulto.
BOWLER
et al. (1996) verificam o papel do SPECT HMPAO nas medidas de volume
dos infartos cerebrais na determinação do prognóstico.
Analisam, em estudo prospectivo, os dados de 43 pacientes consecutivos
não selecionados, com acidente vascular cerebral agudo. Concluem
que as medidas do volume do infarto com SPECT utilizando o Tc-HMPAO
fornecem dados preditivos dos resultados do acidente vascular cerebral.
Estas medidas, entretanto, não são melhores preditoras
do que a escala neurológica canadense. As medidas prognósticas
obtidas pelo SPECT são ligeiramente melhores do que as das
tomografias computadorizadas, porém menos precisas do que as
escalas de avaliação clínica. Concluem, portanto,
que o uso das medidas do volume do infarto usando o SPECT não
podem ser recomendadas como um fator prognóstico de rotina
no infarto cerebral.
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3.3
Acupuntura e Acidente Vascular Cerebral
NAESER
et al. (1992) comparam os efeitos da acupuntura real e da "acupuntura
placebo" no tratamento da paralisia em 16 doentes com AVC isquêmico
agudo do hemisfério esquerdo. Dividem os pacientes, de modo
aleatório, para receberem 20 sessões de acupuntura real
ou de "acupuntura placebo" durante um mês, iniciando
o tratamento sob internação hospitalar de um a três
meses após o íctus. Todos os pacientes são submetidos
a sessões de fisioterapia diária. A avaliação
motora é realizada através do Inventário Motor
de Boston por três examinadores cegos. Quando o sítio
lesional observado pela tomografia computadorizada é uma variável,
um número significantemente maior de pacientes do grupo da
acupuntura real apresenta bons resultados. Quando a lesão ocupa
metade ou menos da metade das áreas das vias motoras na tomografia
computadorizada, a acupuntura é eficaz. Nenhum paciente que
recebe acupuntura placebo apresenta boa resposta, qualquer que seja
a lesão.
JOHANSSON
et al. (1993) questionam se a acupuntura pode melhorar ou acelerar
a recuperação da função motora em pacientes
com AVC, se alcançam um maior grau de independência que
os pacientes controle e se pode melhorar a qualidade de vida de pacientes
com AVC.
A acupuntura
é utilizada por quatro a dez dias, média de 6,5 dias,
após o início do AVC e continuada duas vezes por semana,
durante dez semanas. As agulhas são inseridas tanto no lado
parético quanto no não parético, nos pontos de
acupuntura tradicional chinesa, no total de dez agulhas, que são
mantidas por 30 minutos de cada vez. Associam a estimulação
elétrica, com freqüência de 2 a 5Hz, em quatro agulhas
do lado parético. A intensidade do estímulo é
determinada pela obtenção da contração
muscular.
Os pacientes
de ambos os grupos, acupuntura e controle, recebem tratamentos de
reabilitação individuais padronizados que incluíram
fisioterapia diária e terapia ocupacional.
A melhora
no grupo de tratamento e no grupo controle durante os três primeiros
meses após o AVC está de acordo com os estudos prévios,
mas há pouca evidência de que qualquer terapia de reabilitação
para AVC em particular seja superior que as outras. Os pacientes tratados
com acupuntura melhoram mais rápido quanto à função
motora, equilíbrio, atividade de vida diária e qualidade
de vida, do que os pacientes não tratados com acupuntura. A
diferença na atividade diária em alguns itens e na qualidade
de vida permanece doze meses após o início do AVC.
HU et
al. (1993) desenham e conduzem um ensaio clínico randomizado
controlado, envolvendo pacientes com AVC isquêmico agudo que
foram tratados com acupuntura durante um período de 28 dias,
na tentativa de determinar se o tratamento com acupuntura pode melhorar
a recuperação neurológica e funcional destes
pacientes. Não é realizada sham acupuntura. Todos os
pacientes recebem acupuntura dia sim, dia não, durante um período
de quatro semanas e cada sessão dura de 30 minutos a uma hora.
Os materiais utilizados são: agulhas de acupuntura para o escalpe
de um e meio polegadas de comprimento com 0,35mm de espessura, agulha
de um e meio polegadas de comprimento com 0,30 mm de espessura para
a inserção no corpo e um estimulador elétrico.
A terapêutica para acupuntura padronizada fixada é: primeiro,
a acupuntura escalpeana foi utilizada como rotina e as agulhas foram
inseridas em seqüência no escalpe. O quinto superior da
área motora é usado para tratar o lado contralateral
ao membro inferior afetado e segundo e terceiro quintos da área
motora para tratar paralisias do membro superior contralateral respectivamente.
As áreas da linguagem são abordadas em pacientes com
afasia. A acupuntura clássica é usada como rotina. A
estimulação elétrica, na freqüência
de 9,4Hz é utilizada por dez minutos nas agulhas escalpeanas.
Além disso, uma onda de dispersão densa por 20 minutos
é aplicada sobre as agulhas do corpo.
Os pacientes
são avaliados na entrada e nos dias 3, 7, 14, 28 e 90. É
observada uma melhor evolução nos pacientes tratados
com acupuntura nos dias 28 e 90. A melhora do quadro neurológico
é maior nos pacientes com baixo desempenho nas provas funcionais
e na avaliação neurológica no início do
tratamento.
SÄLLSTRÖM
et al. (1996) investigam um possível efeito adicional da acupuntura
na recuperação motora do tratamento de pacientes com
AVC na fase subaguda, entre 15 e 71 dias após o íctus,
sendo o valor médio de 40 dias. Avaliam 49 pacientes de ambos
os sexos, com história do primeiro episódio de AVC isquêmico
e hemorrágico. Todos os pacientes realizam um programa individualizado
de reabilitação durante seis semanas. Aleatoriamente,
dividem os pacientes em dois grupos. O grupo controle recebe apenas
o tratamento reabilitacional e o outro sessões adicionais de
acupuntura clássica e no couro cabeludo durante 30 minutos,
três a quatro vezes por semana, durante seis semanas. Se necessário,
a estimulação do couro cabeludo, feita com agulhas também
recebe estímulo elétrico de 2 a 4Hz. Os pacientes são
avaliados quanto ao estado neuropsicológico para determinar
a prevalência de afasia, apraxia, distúrbios da percepção,
função motora e a capacidade para realizar as atividades
de vida diária e ainda a qualidade de vida antes do tratamento
e após seis semanas. Não encontram diferenças
significantes nas avaliações iniciais, ou seja, pré
tratamento, de ambos os grupos quanto à função
motora, nas atividades de vida diária e nos testes neuropsicológicos.
Os resultados evidenciam melhoras em ambos os grupos nas escalas avaliadas,
entretanto a melhora é estatisticamente maior no grupo tratado
com acupuntura. Também salientam que só o grupo tratado
com acupuntura apresenta melhora significante na qualidade de vida.
Concluem que a acupuntura produz um efeito terapêutico benéfico
adicional ao programa de reabilitação de pacientes com
AVC na fase subaguda.
YOUNG
et al. (1999) avaliam o efeito da acupuntura clássica em promover
a recuperação motora em pacientes com AVC cortical isquêmico.
Comparam os resultados com os de um grupo controle de pacientes da
mesma faixa etária, através das mudanças nas
escalas motoras de Fugl-Meyer e FIM (Functional Independence Measure).
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